Energisa aposta em biometano
Publicada em: 29/04/2024
Grupo Energisa vai investir R$ 80 milhões para erguer unidade produtora de gás metano em Santa Catarina com capacidade diária de 25.000 m³; fonte energética é renovável e vai usar 350 toneladas de resíduos descartados pelas indústrias da região.
A economia é redonda. Pelo menos é o que asseguram os formuladores das teorias a respeito do tema nesse século XXI. Mas “redonda” seria uma boa nomenclatura? Pensando melhor, talvez não. Talvez “circular” seja um nome mais adequado.
De olho nesse conceito, que embute sustentabilidade, economia, governança e aspectos socioculturais, a Energisa está investindo R$ 80 milhões em uma unidade de biometano. Gás natural renovável, o insumo pode ser utilizado diretamente nas redes de distribuição misturado ao gás natural convencional ou, ainda, ser usado para a geração de hidrogênio, amônia e metanol.
A iniciativa vai estar sob o guarda-chuva (re)energisa, empresa do Grupo criada em 2022 para atuar no mercado livre de energia, oferecendo geração distribuída através de fontes renováveis.
“É um movimento em linha com o que há de mais moderno em termos de discussão energética no planeta. Trata-se de uma matriz limpa e sustentável. E renovável. Um gás energético renovável”, explica Frederico Kos Botelho, líder de soluções bioenergéticas da (re)energisa.
Com previsão de inauguração para 2025, em Campos Novos (SC), a companhia estima produzir 25 mil metros cúbicos de biometano diariamente. E, para chegar a esse patamar, a empresa vai processar cerca de 350 toneladas de resíduos industriais, que serão fornecidos pelas companhias da região. A perspectiva é também gerar 25 empregos diretos no município e 100 postos de trabalho ao longo da empreitada.
Kos Botelho explica que o processo produtivo trata o resíduo coletado por meio de um processo de compostagem, que contém biodigestores. Como resultado, gera-se também fertilizante orgânico ou biofertilizante.
O biofertilizante, detalha o executivo, decorre da aquisição da Agric, concretizada em agosto de 2023. A compra dessa empresa de compostagem de resíduos orgânicos industriais é que vai possibilitar a produção do fertilizante orgânico.
“Nosso objetivo é comercializar esse fertilizante junto aos produtores rurais da região de Campos Novos (SC), onde será erguida a operação”, acrescenta.
A aquisição da Agric, está alinhada à estratégia do Grupo de oferecer um ecossistema de soluções, sendo um fornecedor one-stop-shop para seus clientes.
“Trata-se de um mercado com grandes perspectivas de crescimento, especialmente nos estados onde a Energisa já atua, que abrigam setores como o agronegócio, com alta geração de resíduos orgânicos”, acrescenta.
Mas se a perspectiva é boa para o biofertilizante, também é excelente para o biometano. De acordo com os dados que circulam entre as associações do setor, a expectativa é que a produção dessa nova fonte energética alcance 7 milhões de metros cúbicos por dia em 2029, ante os atuais 500 mil metros cúbicos, que hoje são produzidos a partir de seis plantas espalhadas pelo País.
“É importante salientar que não se trata apenas de biometano e fertilizante orgânico, mas sim de tratamento de resíduo. E, nesse sentido, o biometano alcança excelentes resultados: fomenta a produção de um gás que se renova e gera o fertilizante orgânico utilizado nas lavouras, que vão produzir os insumos para essas indústrias”, enfatiza o líder de soluções bioenergéticas da (re)energisa.
Há, no entanto, um ponto que faz muita diferença: a comparação com o gás natural. É inegável a capilaridade do gás natural no Brasil. Só que esse insumo alcança fundamentalmente a região litorânea brasileira. Pouco se dá em direção ao interior do país.
É justamente aí que o biometano tem uma avenida pela frente. Porque, além de ser renovável, o que o gás natural não é por definição, o biometano é produzido a partir de resíduos, não da exploração de poços, como no caso do gás natural. Sem contar que pode ser usado por caminhões.
Em outras palavras, é caro, por exemplo, ter um posto de gás natural veicular em alguns lugares do Brasil, porque está longe da planta processadora e custa levar o insumo até lá. Mas o mesmo não se aplica ao biometano, uma vez que se origina de resíduos industriais
Então, essa fonte de energia descarboniza o setor de logística, porque não emite carbono, usa resíduos que normalmente seriam descartados pela indústria, produz fertilizante orgânico e, de quebra, propicia nova fonte de energia? A resposta é sim. É ou não é economia circular? É. E é verde.